top of page
Buscar
LABINUR-FEC/UNICAMP

Entrevista Luiza Baiochi (mestranda Labinur): "No Brasil tem planejamento, sim!"


Por Fabrício Albergaria


Luiza Baiochi fez sua Iniciação Científica na FECFAU-Unicamp e recebeu o mérito científico por sua pesquisa. Agora, a pesquisadora parte para uma nova etapa, o mestrado. Ainda no início dos trabalhos, o mestrado segue direções opostas àquelas da IC ao investigar regiões metropolitanas.


A mestranda concedeu entrevista para o blog do Labinur e conta um pouco mais a fundo sobre sua pesquisa a seguir.

 


A sua Iniciação Científica (IC) e o mestrado seguem caminhos diferentes?


- Seguem caminhos diferentes. Na realidade, aquela Iniciação Científica partiu de um caso que estávamos estava estudando, que era Gonçalves, e a gente estava fazendo o processo de elaboração do plano-diretor do município. E aí essa minha pesquisa surgiu a partir disso, então a ideia daquela IC era tentar aprofundar a questão do plano-diretor, relacionando com todas as características do município de Gonçalves que, na IC vimos que não é algo único. Na verdade, representa a maioria dos municípios brasileiros.


No mestrado a ideia já é bem diferente, é numa outra escala. O que estamos fazendo é focar nas regiões metropolitanas, então fizemos um recorte das regiões metropolitanas em escala nacional mesmo, considerando todas do Brasil e, então, fizemos um recorte das regiões metropolitanas que tiveram maior crescimento populacional em dois períodos: de 2000 até 2010 e depois de 2010 a 2022 a partir dos censos, por isso que consideramos 2022 e não 2020.


Então, fizemos um recorte, dessas 70 e poucas regiões metropolitanas em 2022, reduzimos para 8, e aí a partir dessas 8 nós estamos fazendo um estudo para entender sobre a expansão desse crescimento em cada região metropolitana. Embora a gente tenha pegado esse recorte da região metropolitana, estamos fazendo por município, porque a ideia é tentar entender se houve ou não uma expansão no sentido da ocupação dispersa ou se esse crescimento foi compacto.


A partir disso, depois de ter compreendido como foi o crescimento, se ele foi disperso ou compacto, traçar uma relação do tipo de crescimento com os planos daquele município, então relacionando principalmente com o plano diretor, e caso não tenha plano-diretor então com algum plano de manejo se estiver inserido em alguma unidade de conservação ambiental.


A ideia é essa, é ver se o município teve um crescimento compacto, se o plano diretor, de alguma forma, contribuiu para isso. Se sim, como foi? Através de algum instrumento? Como que se deu esse diálogo? Como que o plano diretor pode contribuir para que o crescimento dos municípios seja compacto e não disperso. Então são caminhos bem diferentes.

 

Qual o mote principal do seu projeto em relação aos projetos que te inspiraram? O que difere o seu das suas inspirações?


- É um novo recorte, com atualizações nas regiões metropolitanas para o censo de 2022. Algumas regiões metropolitanas mudaram, principalmente em 2021 algumas regiões metropolitanas deixaram de ser regiões metropolitanas e outras se tornaram, então, por exemplo, nesse novo recorte a gente tem Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, que é uma nova região metropolitana, e na antiga ela não fazia parte. Existem algumas outras que a gente incluiu pelo método de seleção que mudou um pouquinho, mas não é muita coisa, mas o principal mesmo é o método que estamos lutando para fazer essa primeira análise do crescimento, se ele foi disperso ou compacto, porque naquele momento eles tinham analisado muito mais pelo crescimento populacional e pela densidade demográfica, e a partir disso eles estavam considerando se foi compacto ou se foi disperso.


Agora estamos nos baseando principalmente num artigo chinês. Estamos vendo como a gente pode adaptar isso para o Brasil, porque é uma metodologia que consideramos bem completa, então ele pega dados de saúde, educação, entra em questões também da própria forma urbana; encontramos uma base de dados bem interessante, ela mapeou precisamente indicando áreas construídas, áreas florestadas, áreas de plantação. E aí, comparando essas imagens dos períodos diferentes, a gente consegue analisar precisamente o quanto cresceu, o quanto expandiu e quantificar isso.


É interessante porque conseguimos ter vários dados nessa metodologia. E só dessa parte de forma urbana estamos considerando três pontos: a área total que cresceu e também, uma coisa que antes não tinha é considerar nesse, não só o crescimento, mas quantificar desse crescimento que houve de um período para o outro se houve alguma mancha de crescimento descolado da parte central, desse núcleo principal, contar quantos e calcular também a área dele, porque aí a gente consegue entender melhor o quão disperso foi.


Eu acho que nessa questão do método nós estamos refinando essas variáveis porque é uma questão que temos que é uma dificuldade mesmo, são alguns dados. Então, por exemplo, nesse artigo que vimos na questão da saúde, eles fizeram uma leitura de quantos leitos tem a cada mil habitantes por município, e aí trouxemos aqui a partir de leitos. Só que para alguns municípios a gente não encontrou esses dados, a gente pegou isso no Data SUS e tem um monte de dados relacionados à saúde, e todos os lugares que tinham essa informação tinham essa fonte também. Só que para alguns municípios não tem e como a gente está fazendo uma análise do município, de dois períodos, se eu não tenho esse dado fica até difícil depois fazer uma análise.


Por uma questão de dados tem muitas coisas que teríamos que adaptar do método para o artigo que estamos nos baseando para a pesquisa, tem várias informações que infelizmente a gente não tem. Mas ao mesmo tempo é desafiador, é interessante também aplicar no caso do Brasil.

 

Quais as principais dificuldades que você enxerga na sua pesquisa?


- No momento que eu estou é isso, os dados. Porque alguns municípios que são dessas regiões que selecionamos são municípios menores, tem municípios que é realmente mais difícil de ter dado e a dificuldade aí é que eu preciso do mesmo dado para todos os municípios. Então eu não posso considerar “ah, eu encontrei esse dado para tal estado”. Não. Eu tenho que encontrar da mesma data, da mesma fonte, porque senão às vezes eu encontro de fontes diferentes, às vezes os parâmetros que foram utilizados são diferentes. E aí essa comparação fica complicada. Então, no momento, a maior dificuldade tá sendo realmente encontrar esses dados.


E também eu não acho que é uma dificuldade agora esse segundo ponto que eu vou comentar, mas é interessante fazer essa adaptação do método para o Brasil, por exemplo. Um dos dados que precisaríamos relacionar ao transporte – e o artigo coloca para a gente considerar a menor distância até alguma estação de metrô – isso é, dos cálculos que temos que fazer no método para quantificar se foi um crescimento disperso ou compacto.


Mas assim, se você pegar a realidade dos brasileiros, quantos têm metrô? Mas você pode considerar estações rodoviárias. Mas será que é fácil encontrar esse dado da menor distância entre estações rodoviárias ou percurso que você pode fazer até a estação rodoviária para tantos municípios? É meio complexo.


A pesquisa tem várias etapas: tem essa do método, mas depois tem a busca pelos planos (diretores). Depois tem essa relação entre os planos e o crescimento, e depois tem a parte de aprofundar os planos para ver se tem uma relação.


Em relação ao transporte pensei em fazer uma sintaxe espacial, que é como se fosse uma leitura do traçado urbano para entender o quão compacto parece o próprio traçado e representar isso graficamente através de cores, por exemplo. Pode ser uma saída interessante.


Uma preocupação que temos com o método é que a ideia é que ele seja replicável para outros municípios e para qualquer município do Brasil. Então tem esse outro desafio.

Sobre Gonçalves, lá na IC, a gente pensou o seguinte: Gonçalves é um município que se você compara a área do núcleo central com a área de todo o território é uma diferença absurda. Eu lembro que quando fomos fazer os cálculos, a relação da área e o núcleo urbanizado de Gonçalves corresponde a 0,3% da área de todo o território (da cidade).


Então pensamos “como que a gente vai fazer um plano-diretor, especificamente a leitura técnica do plano-diretor, que dê conta de fazer um estudo de toda aquela área territorial?”, porque a prefeitura mesmo é muito enxutinha, tem pouquíssimos profissionais, é um município muito pequeno, tem menos de 5.000 habitantes. Então a ideia foi fazer uma leitura técnica voltada para esse tipo de município que percebemos que é a realidade da grande maioria dos Municípios brasileiros. E aí então começamos com esse desafio de ver as leituras técnicas que já existiam e tentar montar uma que se aproximasse mais dos desafios de municípios com grandes territórios e pequenas áreas urbanizadas.

 

O que você mais destaca na sua pesquisa de mestrado? O que você mais se sente empolgada para trabalhar?


- Uma das coisas que eu sinto é que no geral as pessoas têm uma impressão de que no Brasil a gente não tem planejamento, que a gente não tem plano. E eu acho que nesse sentido a pesquisa caminha para um lugar interessante, porque ela vai ver justamente a efetividade dos planos espacialmente; vai ver como que o plano pode estar refletido no que acontece no espaço. Então, nesse sentido, eu acho que ela é interessante porque é uma resposta, é até algo que, pelo menos na minha leitura, eu vejo como um senso comum mesmo de “ah, no Brasil a gente não tem planejamento, não tem plano”. E é, de certa forma, uma busca para entender justamente isso, que tem plano sim. A gente vai focar especificamente nos (municípios) que tiveram crescimento compacto.


Mas eu acho interessante também, talvez num outro momento, ver os planos que até impulsionaram um crescimento disperso, porque isso acontece infelizmente, a gente vê isso acontecendo em Campinas mesmo. Nesse momento eu tô empolgadíssima para fechar o método, pra ver se ele tá realmente adaptado. Eu quero fechar essa parte e aí depois tem toda a parte de aplicação do método que eu acho que vai ser bem longa, principalmente porque vai ter tudo isso de pegar as imagens satélite e aí fazer a análise de um período para o outro – essa fase eu também estou bem empolgada, que é principalmente essa fase da forma urbana, de você comparar um período com o outro e ver o que aconteceu. Estou ansiosa também para a parte que vamos ver de fechar e ver como foi o crescimento do município. Eu estou feliz porque eu consegui abraçar isso.

 

Tem alguma região metropolitana que mais te chamou a atenção no seu trabalho?


- A gente tem muitas regiões em Santa Catarina, e eu estou querendo entender o que que tá acontecendo lá porque são várias (regiões). Se não me engano são quatro, ou seja, metade (do que o projeto engloba), o que é muito. Pensar que eram 70 e poucas no Brasil e a gente chegou em 8, e 4 são de Santa Catarina.


Mas como eu estou bem focada no método agora, em fechar as variáveis, eu estou me segurando para não ver como que é a tipologia desses municípios. Do mesmo jeito que eu falei de Gonçalves – que tem um grande território e uma pequena área urbanizada, um pequeno núcleo urbano –, eu estou muito curiosa para entender, em ver esses municípios.


Até foi triste cortar alguns municípios porque deixamos umas regiões metropolitanas muito interessantes para trás, mas eu sei que não ia dar tempo também, então a gente teve que fechar o máximo.


Mas tinha, por exemplo, uma de Goiás que eu estava bem interessada também; eu estava empolgada para tentar pegar regiões metropolitanas distantes, de diferentes regiões.


São muitas regiões. E a de 2021 que eu comentei também é de Santa Catarina, então eu estou curiosa também para dar uma olhada e comparar o perfil das regiões, porque Florianópolis é bem antiga e essa é super recente. Então eu fico super ansiosa para entender a diferença entre elas embora estejam no mesmo Estado.


Eu tenho curiosidades diferentes para cada região metropolitana, não tem uma que eu seja mais ou menos (importante) só que essas me despertam mais curiosidade, mas de maneira diferente.



*Fabrício Albergaria é jornalista e esta matéria faz parte do programa da bolsa Mídia Ciência concedida ao autor pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

23 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


ÍconeCores copy-100.jpg
logo-unicamp-name-line-blk-red-0480.png

Universidade Estadual

de Campinas

Faculdade de

Engenharia Civil e

Arquitetura e Urbanismo

Programa de Pós Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade

DOCENTES

Prof. Dr. Sidney Piochi Bernardini 

Profa. Dra. Mariana Rodrigues Ribeiro dos Santos 
LATTES

Profa. Dra. Ana Maria Girotti Sperandio

bottom of page